Livro de Daniel 1 _ 2 - Pr. Reinaldo Siqueira
LIVRO DE DANIEL 1 _ 2 - Pr. Reinaldo Siqueira
https://www.youtube.com/watch?v=YN1z-ADizS8&list=PLFNLt05LtO1MyMTBZyaK4yR45xQcnS-Zk&index=3
Vamos começar a série de capítulos do material profético. Quando se estuda Daniel, as pessoas procuram ir já para explorar todos os detalhes e interpretação em cada capítulo. Aqui vai ser diferente, que é ler o texto, tirar e avançar na medida daquilo que o texto informa, ir acompanhando o texto do livro. Na medida que estudamos o texto com seus detalhes veremos que ele nos informa muita coisa. Focarmos no texto e a partir do texto entender aquilo que a profecia poderia se referir.
DANIEL 1
Daniel 1:1,2 “No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá, e alguns dos utensílios da Casa de Deus; a estes, levou-os para a terra de Sinear, para a casa do seu deus, e os pôs na casa do tesouro do seu deus.” Lendo o texto, parece que esse evento histórico é resultado da iniciativa humana. É o rei Nabucodonosor, na sua guerra, para expandir o seu poderio, o controle do seu império, do império babilônico. Na realidade, neste momento que ele sitiou ele não era rei. O texto trata como rei porque ele se tornou rei naquele mesmo ano que ele sitiou a cidade. Mas estamos aqui no ano de 605, e você pode ver um pequeno tablete de argila do museu britânico, classificado com nº 21946 - este tablete registra a batalha de Carquemis, que ocorreu naquele mesmo ano. O príncipe Nabucodonosor, veio como general do exército babilônico, para lutar contra o exército egípcio, que estava controlando a região fazia 4 anos. Faraó Neco, depois da queda de Nínive em 612, a região pertencia ao império ninivita, eram submissos aos ninivitas, o império assírio, mas Nínive vai cair. No ano 612, atacada pelo exército conjunto dos babilônios, dos medo-persas, e dos elamitas, eles trazem um fim àquele poderio assírio. Quando o poderio assírio cai, então o Egito, que estava ali bastante acuado pelos assírios, tenta retomar poder na região. Daí vai invadir a região de Israel, da Judéia, seguir alí na região da Samaria. É neste contexto que o texto bíblico fala da morte do rei Josias (II Cr. 35:20-25), ele vai tentar se impor ao exército egípcio e ele morre nessa batalha. Faraó estabelece seu poderio sobre Judá, Judá passa a ser vassalo do Egito agora. Saído de vassalo da Assíria, se torna vassalo do Egito. Mas poucos anos depois, 4 anos depois, temos alí os babilônios, aproveitando o vácuo do poder assírio, agora na famosa batalha, bem ao norte da região sírio-fenício-israelita, a batalha de Carquemis do ano 605. Eles vencem o exército egípcio, depois, na sequência, naquele mesmo ano, sitia e conquista Jerusalém. Tudo isto, olhando assim parece ser resultado do poder humano, é o poder humano que está trabalhando. No entanto, o texto bíblico segue dizendo “o Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá … “ No final se vê a ação humana, visivelmente se vê a ação humana. A ação humana como o motor que está conseguindo realizar os fatos da História. No entanto, o texto bíblico de Daniel nos diz que Nabucodonosor só conseguiu conquistar Jerusalém porque “o Senhor lhe entregou” Jerusalém, Jeoaquim, e deu a vitória. Por detrás da ação humana vemos a ação divina que mostra a soberania de Deus na História.
No mesmo capítulo, vemos outra interessante ênfase da ação divina, porque agora há uma ação humana do outro lado. (Daniel 1:8,9).
O rei, ao trazer os exilados, nesse primeiro leva do exílio, levou os jovens da nobreza e da família real, entre eles, Daniel e seus três amigos. Ao chegar alí, ele decide escolher alguns jovens para se prepararem para servirem na administração de Babilônia. Daí foram para a famosa escola dos eunucos da Babilônia, como diz o texto ali. Entre estes jovens estavam Daniel e seus três amigos: Misael, Hananias e Azarias. E estes jovens, então, quando estão neste contexto de estudantes da escola para futuros oficiais em Babilônia, eles se recusam a se contaminar, porque o rei deu a ordem de, a comida da mesa dele, deveriam os estudantes da escola comer. E diz ali: “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei … “ Novamente o texto mostra uma atitude humana. Daniel e seus amigos vão tomar essa decisão. Parece ser apenas a ação humana mas, o texto também diz: “Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte dos chefes dos eunucos.”Daniel 1:9. Por detrás desta história vemos a ação divina que então enfatiza essa soberania, Daniel vai conseguir realizar isto porque “Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão,” e ele vai ser bem sucedido nessa iniciativa. No mesmo texto diz que, além de dar favor diante do chefe dos eunucos, seria o chefe da escola, estes quatro jovens também “Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria … “Daniel 1:17. De novo vemos Deus ativo no momento de tragédias: conquista de Jerusalém, primeira leva do exílio, utensílios do Templo do Senhor levado para o templo de Babilônia, jovens sendo levados, o rei Jeoaquim também sendo levado. Parece que o poderio humano, que a História está sendo decidida pelo poder humano. Mas, o texto enfatiza que por trás disto tudo está a ação do Deus soberano. Esta é a ênfase já no 1º capítulo.
Reflexões:
Por que Daniel pediu para servir a eles vegetais e água e não animais limpos, conforme orientação de Moisés ao povo?
O texto realmente não nos diz. Quando você estuda este capítulo 1, é interessante pois aparece lá que Nabucodonosor levou os utensílios da Casa do Senhor para a terra de Sinear. Esta referência nos remete a história da torre de Babel, onde tem a rebelião da humanidade. A humanidade era unida, havia somente uma língua, e eles foram. Deus tinha feito um pacto com Noé, renovando com Noé as responsabilidades de Adão, “crescer, multiplicar, encher a terra.” A aliança de Deus com Noé é uma renovação do pacto de Deus com a humanidade na criação. E Deus então repete a Noé tudo que falou a Adão, e por isto, no texto bíblico, Noé é o segundo Adão diríamos assim. A humanidade recomeça de novo. Mas a humanidade decide não cumprir, cresceram , se multiplicaram mas, em vez de encher a terra, se concentraram. E a torre de Babel é ligado com Babilônia na história bíblica. E Babel é representação da humanidade de rebelião contra Deus. O que vemos neste texto de Daniel é que quando a humanidade se rebela contra Deus, Deus traz juízo sobre ela, a torre de Babel, A resposta de Deus à rebelião da humanidade é Abraão. Abraão sai da Mesopotâmia e vem para a terra prometida para Deus constituir um povo, no qual seria abençoada todas as famílias da terra. Quando chegamos em Daniel, parece que todo o plano de Deus focado em Abraão e a sua descendência chegou a nada. Parece que Babel, neste contexto, venceu. Babel vem à terra prometida, conquista, e traz os utensílios de Deus para a terra de Sinear, para a terra de Babel. E também a atuação do rei é uma atuação que ao colocar a ordem, ele está se colocando no lugar divino, do que Deus determinou na comida humana. Por que Daniel escolheu vegetais? Eu acho que Daniel faz para enfatizar sua crença no Deus Criador como Senhor de tudo. Ele faz um retorno a criação onde alimentos seriam: vegetais, legumes, frutas, etc. E Deus lhes dá então, saúde, força, mais do que os outros. Também tem os aspectos práticos, pois para o judeu não somente existe o animal puro, mas existe o modo de ser executado o animal, tirando todo o sangue de maneira adequada e correta, por exemplo. Para o judeu existe essa preocupação, e que não comeria nenhuma carne cujo sangue do animal que foi morto, não foi retirado e aprovado biblicamente. Comer essa comida indicava também adoração ao rei. Era uma maneira de fazer esses jovens se submeterem à autoridade de Nabucodonosor como soberano sobre todas as coisas, tomando o lugar de Deus. Esta questão de adoração dos reis como divinos vai atravessar muitos textos da Bíblia, chegando até na época do segundo Templo com César Augusto, o imperador. Pois isto é uma maneira de controle político, você controlava as pessoas politicamente através de adoração ao rei, ao imperador como ser divino. Então tem essa dimensão também no capítulo 1. Mesmo sendo pura, mesmo que foi ritualmente preparado por um matador judeu, essa comida foi oferecida primeiro ao rei, numa forma de culto, depois entregue aos jovens. Havia uma espécie de culto, adoração ao rei.
Se o Eterno é soberano sobre tudo, por que Ele “entregou” o Seu povo nas mãos de Nabucodonosor, permitindo a conquista de Jerusalém e do reino de Judá? Ver Daniel 9:4-19. Usa o verbo hebraico na forma consecutiva, que é dar, e Ele deu, entregou o seu povo nas mãos de Nabucodonosor, permitindo a conquista de Jerusalém e o reino de Judá. Como também depois vai deixar Seu Santuário ser destruído, queimado, arrasado, e Seu povo ser levado em exílio, nas mãos de pagãos, de impérios pagãos, como isto é possível se Deus é o soberano de tudo?
A resposta, no texto bíblico, é a dimensão da aliança do Sinai, a aliança entre Deus e Israel no Sinai. A resposta está no livro mesmo de Daniel, na oração de Daniel no capítulo 9, que é o capítulo que vai receber uma profecia importantíssima, a profecia das 70 semanas proféticas. Nesta oração Daniel fala a razão porque eles estavam alí no exílio. Vou apresentar só alguns versos deste capítulo: (verso 9) “Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão, pois nos temos rebelado contra ele (verso 10) e não obedecemos à voz do Senhor nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu por intermédio dos seus servos, os profetas. (verso 11) Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não obedecer à tua voz; por isso, as maldições e imprecações que estão escritas na lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra ti.” Então, de um lado existe o Deus de Israel, que tem misericórdia e perdão; e de outro lado seu povo, que tinha se rebelado contra Ele, rebelado contra essa relação estabelecida na aliança. Quando vamos para a aliança do Sinai, temos esta aliança de Deus que tirou Israel da terra do Egito, para ser o seu Deus, e Israel ser o Seu povo. A aliança tinha mandamentos, as estipulações desta aliança que são os mandamentos de Deus. Na sequência desta aliança temos a dimensão das bênçãos e maldições, que aparece em Levítico 26, por exemplo, em Deuteronômio 28, onde se Israel fosse fiel a esta aliança estabelecida com Deus, Deus traria às Suas bênçãos. Mas se o povo se rebelasse contra Deus, Deus traria os Seus juízos na forma de maldições que é destruição da terra, destruição da terra de Israel, destruição das cidades, a destruição do Templo e o exílio em terras estrangeiras. Daniel está falando exatamente isso. Então temos no texto algo fundamental para compreender toda a Bíblia. Quando vamos na Bíblia hebraica, se não entender o contexto da aliança entre Deus e Israel no Sinai, vai ter dificuldade de entender o texto bíblico em todos os seus aspectos e também a profecia de Daniel. A aliança, o pacto, portanto, é sempre a base do relacionamento de Deus com o Seu povo a cada momento da História. Existe no livro tanto as dimensões do juízo de Deus sobre o povo, mas também, de cuidado, graça/misericórdia, vindicação e restauração/redenção. Ajudar o povo a enfrentar a História sabendo desta soberania de Deus.
Qual a relação entre a soberania de Deus e a liberdade humana?
O livro de Daniel declara Deus é o soberano sobre a história humana “remove reis e estabelece reis… “ Dn. 2:21 - “tem domínio sobre o reino dos homens. Ele dá esse reino a quem quer …” Dn.4:17. A história humana no final tem um Soberano que a dirige. Essas interações são complexas, não é tão simples assim. Digo isto porque tudo que acontece não é vontade de Deus. Existe a liberdade do ser humano. Deus também é soberano sobre a vida humana e nossa vida está nas mãos dEle, mas temos nossa fidelidade para com Ele. O ser humano tem liberdade de ação tanto do lado positivo quanto do lado negativo, tanto para o bem quanto para o mal. Daniel e seus amigos ali resolveram não se contaminar. Foi a decisão de Daniel, não foi Deus que obrigou Daniel. Daniel decidiu, ele tem liberdade de escolha. E ao mesmo tempo vemos o rei Belsazar, o Nabucodonosor, e outros mais, tendo também a sua liberdade de escolha e ação. “E o senhor, rei Belsazar, que é filho de Nabucodonosor, não humilhou o seu coração, mesmo sabendo de tudo isso. Pelo contrário, se levantou contra o Senhor do céu … “ Daniel 5:22,23. Você decidiu isso. Isto é liberdade de escolha e ação. No livro de Daniel enfatiza esta liberdade humana, no entanto, ela existe dentro de limites. O ser humano que é livre também é responsável. E a responsabilidade traz também o contexto do juízo divino sobre as ações humanas. A liberdade humana existe mas ela é limitada, não é infinita. Os que usam a sua liberdade para o bem seguindo a orientação divina, Ele livra, como diz em Daniel 7:22 “Até que veio o Ancião de dias e fez justiça aos santos do Altíssimo. E veio o tempo em que os santos possuíram o reino.” Vindicação de Daniel e seus amigos, vindicação também do povo de Deus no final da História. Temos os atores que atuam no palco da História: Deus, é o principal ator, Israel, também presente no palco da História, temos o indivíduo, representado aqui por Daniel e amigos, Nabucodonosor, Belsazar, etc, são indivíduo humano atuando na História, temos as nações representado por Babilônia, Medo-Persas, e outras nações, têm poderes políticos e religiosos que atuam neste palco da História, temos poderes sobrenaturais, Daniel vai fazer referência a esses poderes também. E daí a pergunta é:
Como eles interagem? Qual é o resultado disto na História?
Isto será parte do estudo no livro de Daniel a partir de Daniel 2. Vamos compreender através do texto
DANIEL 2
Daniel 2:1-6 “No segundo ano do reinado de Nabucodonosor, teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono. Então, o rei mandou chamar os magos, os encantadores, os feiticeiros e os caldeus, para que declarassem ao rei quais lhe foram os sonhos; eles vieram e se apresentaram diante do rei. Disse-lhes o rei: Tive um sonho, e para sabê-lo está perturbado o meu espírito. Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretação. Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturos; mas, se me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grande honras … “ Então neste segundo ano do rei (abril/março: 603 - 602 a. E.C.), ele “teve um sonho”. Interessante que a tradução para o português passou para o singular. No original está que Nabucodonosor “teve sonhos.” Seu espírito vai se espantar, se perturbar, e os seus sonhos passarão dele. Ele ficou muito perturbado com estes sonhos. Não é que ele teve diversos sonhos. A maneira que podemos compreender esta frase em relação ao que vamos ver no capítulo, é que ele sonhou este sonho mais de uma vez. Este sonho foi repetido ao longo da noite, o que fez intensificar ainda mais seu estado de inquietação, de preocupação e de perturbação, porque ele sonhou este sonho várias vezes. Na antiguidade dava importância muito grande para sonhos, Babilônia não era exceção. Babilônia dava grande ênfase nisso. Temos compilação chamada: Livro dos Sonhos, de reis e personagens importantes que sonharam. O rei ía dormir no templo de Marduque para poder ver se ele tinha sonhos vindo do seu deus, para receber revelações por parte deste deus. E o fato de sonhar sonhos aparece um pouco aqui como aconteceu lá com José. Daniel e José do Egito tem muitos paralelos. Vemos lá Faraó sonhando “as vacas com os grãos de trigo, sete vacas gordas, sete vacas magras, sete grãos gordos, sete grãos mirrados.” O fato de repetir o sonho dá a idéia de algo que vai acontecer porque é muito importante a mensagem, e tudo isso entra neste jogo. Temos aqui estes primeiros aspectos, do plural, “ele sonhou sonhos”. O verbo está no singular, terceira pessoa que é Nabucodonosor, mas o objeto deste sonho dele, dessa ação, ela é no plural, indicando que ele teve este sonho várias vezes. Quando lemos o livro de Nabucodonosor, o primeiro capítulo que antecedeu a este, falou que Daniel e seus amigos estudaram durante três anos na escola alí do eunucos de Babilônia. O capítulo seguinte fala do segundo ano do rei. Mas porque seria o segundo do rei se já está lá há três anos? O rei já deu para eles a resignação de estudar, falou da alimentação, falou que o rei fez o exame final desses jovens também. Mas como pode ser o segundo? Esta é uma aparente que é chamado de conflitos de inconsistência do livro de Daniel, que o livro não é bem histórico. Mas se torna, de novo, um argumento a favor do livro de Daniel. Ao estudar os costumes de reinado, de contagem de reinado em Babilônia, o primeiro ano do rei é chamado de ano de ascensão. Ele não é contado oficialmente. É o ano que o rei ascendeu ao trono. A partir do segundo ano que ele está no trono começa a contar: primeiro, segundo, terceiro ano do rei. E estes magos, estes feiticeiros, estes encantadores, estes caldeus, eles então respondem ao rei. Aqui está uma outra curiosidade do texto. O texto, lá no livro de Daniel muda da língua hebraica para aramaica. Então tem essa diferença de língua. A partir do verso 4 até o final do capítulo 7, o texto de Daniel estará em aramaico. É bem parecido o aramaico do hebraico, e é próximo que nem o português do espanhol. As letras são as mesmas, mas a escrita da palavra muda, a pronúncia, etc. E às vezes tem palavras que são totalmente diferentes. Se você não conhece a outra língua você não entende. Voltando ao texto, é interessante que temos diferentes traduções acerca da resposta do rei, que cria um outro aspecto. A Almeida revista e atualizada em português diz:”Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma coisa é certa: se não me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas monturos; mas, se me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, prêmios e grande honras …” Então foi traduzida como: “Uma coisa é certa”. Veja esta tradução da própria Almeida, mas a revista e corrigida: “Respondeu o rei e disse aos caldeus: O que foi me tem escapado: se não me fizerdes saber o sonho … “Divergência na tradução está relacionada à frase. Muitos consideram que Nabucodonosor esqueceu o sonho, e lendo a frase que está em aramaico, quer dizer: “a palavra de mim.” O grande problema é a última palavra: “seguro” que é um adjetivo. Traduzido fica: palavra/decreto por mim está segura. Quer dizer: “Eu fiz um decreto, tomei uma decisão, e esta decisão está segura”. Qual é a decisão? É o que ele fala depois: “Se vocês não me declararem o sonho e sua interpretação vocês serão despedaçados, vou acabar com vocês. Mas se vocês declararem a interpretação eu vou encher vocês de honra, de presentes, etc.” Outros lêem esta mesma expressão como sendo um verbo e traduz: “de mim saiu e escapou .” Que seria então o verbo: escapar, fugir, perder. Por isso diz: “ A coisa de mim saiu” - “O sonho de mim escapou.” Existem estas duas possibilidades. A literatura mais antiga, quando você olha do aramaico, usa essa expressão mais como adjetivo: seguro, firmar. A leitura como verbo, ela aparece mais esse verbo no chamado aramaico rabínico. Você vai ver isto nas interpretações do texto, na literatura judaica também, e mesmo na versão da Septuaginta aparece ter lido como o verbo em vez de um adjetivo. A sequência do texto parece indicar que o rei não esqueceu o sonho, visto que nenhum caldeu, mago, encantador ou feiticeiro se arriscou inventar qualquer coisa, mesmo sabendo que sua vida corria risco naquelas circunstâncias. “Olha rei, tu estava ali cavalgando num cavalo branco, poderoso em uma batalha e etc …” Em vez de dizer assim: “Não! Ahh é cavalo branco é? Negócio óôô que legal e que quer dizer isso?” “Quer dizer a sua vitória.” Podia ser qualquer coisa, mas eles não arriscaram em inventar nada. O texto parece indicar que Nabucodonosor sabia pelo menos alguma coisa do sonho. O cara:”Ahh um cavalo branco.” “Não tinha cavalo nenhum não, manda matar.” “O senhor estava num barco viajando …” “Não! Não tinha barco não, manda matar.” Então, eles não tiveram coragem de inventar nada, pois tinham medo de que ao inventar e o rei notar que era uma invenção, o rei ficasse ainda mais furioso. Eles tentaram ver se conseguia manipular o rei, tentando fazer de forma diferente: “Diz o sonho, fala o sonho.” Implicando que o rei sabia alguma coisa do sonho, Então hoje, nas traduções mais atuais, normalmente você não traduz mais como: “a coisa me escapou, o sonho eu esqueci.” Você coloca ali que “o decreto do rei é seguro”. “E o decreto é este: se não souber falar o sonho e dá a sua interpretação sereis destruídos.” Mas, se eles o fizessem, seriam ricamente recompensados. Este é o contexto. E o rei fica chateado: “Vocês estão querendo me enganar. Bem percebo que quereis ganhar tempo. Vede o que eu disse está resolvido. “ E aqui de novo, nas outras tradições mais atuais diz: Daniel 2:7-9. ”a coisa está resolvida, o decreto é este, se não me fazer saber o sonho uma só será a vossa sentença, portanto, dizei-me o sonho, e saberei que me podeis dar-me a interpretação.” Nabucodonosor fez da seguinte situação: se eles souberem declarar qual é o sonho, eu sei que eles pode me dar a interpretação; mas se eles não sabem qual é o sonho, também qualquer interpretação que eles derem será uma interpretação fajuta. Seria invenção deles. Daniel 2:10,11 “Responderam os caldeus na presença do rei e disseram: Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que houve sido, que exigisse semelhante coisa de algum mago, encantador ou caldeu. A coisa que o rei exige é difícil, e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com os homens.” A reação de Nabucodonosor, nos diz o texto, Daniel 2:12,13 é que “ele se irou muito e enfureceu, e ordenou que matassem” não somente esses magos, encantadores, feiticeiros e caldeus, mas “todos os sábios de Babilônia. Saíu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.”
Daniel no capítulo 1 foi, no exame final de formação pelo rei, encontrado dez vezes mais sábio do que os outros, por que não foi chamado para fazer parte deste grupo que iria interpretar? O texto não nos diz a razão, mas a impressão que tiro da minha leitura, meu ponto de vista seria que este grupo de sábios: magos, feiticeiros, encantadores e caldeus, são grupo que está ligado à religião babilônica. Religião é uma área em que você não tem pessoas de outra religião participando. Você tem um líder religioso, e este líder religioso trabalha dentro da comunidade dele e assume as responsabilidades religiosas. Então dentro dos sábios de Babilônia tinha o grupo que lidava com a parte religiosa: consultores, intérpretes, conselheiros, etc. Havia muitas adivinhações nessas religiões antigas. O rei ía para a guerra e o líder mago, feiticeiro, encantador ou caldeu, para acompanhar, adivinhar através dos fígados, de movimento de óleo na água, etc, fazer adivinhação e dizer: “Os deuses estão falando isso aí para aqui; os deuses estão falando isso aí para lá.” Faziam sacrifícios e tal. Este é um grupo religioso. Daniel pertencia aos sábios de Babilônia, mas não na área religiosa, mas sim na área administrativa. Ele é um estrangeiro na Babilônia. Ele foi treinado para ajudar na área administrativa. Portanto, ele não foi chamado, nem pensaram nele. Estes aqui eram pessoas que eram do ofício religioso em Babilônia. Mas, o rei ficou tão furioso que mandou matar todo mundo. Este conceito de Nabucodonosor, que aparece várias vezes no livro, como se ele fosse um deus, e sua ira agora extermina tudo, que vai além das dimensões do relato aqui. O que mostra o caráter dele de se assumir como grande rei, como praticamente uma figura divina, que tem direito de vida e morte sobre todos os seres humanos. Então saiu esse decreto. E o texto, em Daniel 2:17-19, mostra que “Daniel foi para casa, fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, para que pedissem misericórdia ao Deus do céu sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com os restos dos sábios da Babilônia. Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu.”Então Daniel vai louvar a Deus, orar a Deus pela soberania, porque Deus é Aquele que revela mistérios, segredos. É Ele que levanta, abate reis. Estabelece a História, o tempo, as estações. Imediatamente após a oração de louvor que Daniel faz a Deus e no dia seguinte, ele foi ter com Arioque, que era o oficial do rei, Daniel 2:24-25, que “o rei tinha constituído para exterminar os sábios de Babilônia; entrou e lhe disse: Não mates os sábios da Babilônia; introduze-me na presença do rei e revelarei ao rei a interpretação. Então, Arioque depressa introduziu Daniel na presença do rei e lhe disse: Achei um entre os filhos dos cativos de Judá, ao qual revelará ao rei a interpretação.” Daniel 2:26-28 - “Respondeu-lhe o rei e disse a Daniel, cujo nome era Beltessazar: Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem astrólogos o podem revelar ao rei; mas há um Deus nos céu, o qual revela os mistérios, pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias.” Daniel não trás méritos para si, vai dar méritos ao Eterno. E você tem essa expressão “nos últimos dias,” que é uma projeção, então, sobre a História. Ou seja, o que será até o fim da História. Expressão esta que vai aparecer várias vezes no livro de Daniel. Essa profecia, que é o sonho desta estátua, começa com Nabucodonosor vai continuar depois, e vai até os últimos dias. Daniel 2:28-29 - O que será o futuro? Era a preocupação de Nabucodonosor. “O teu sonho e as visões da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estas: Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te pensamentos a respeito o que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela mistérios te revelou o que há de ser.” Daniel 2:31-33 “Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que era imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé diante de ti, e a sua aparência era terrível. A cabeça era de fino ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e os quadris, de bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro.” Daniel 2:34-35 “Quando estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios.” Mais adiante, o texto vai falar que a pedra foi cortada de uma montanha. Então essa pedra vem, destrói, atinge primeiro nos pés de ferro e barro, e os esmiúça, mas depois, a mesma pedra destrói todo o resto da estátua. “Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra.” Daniel 2:36 - “Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei.” Daniel depois de descrever o sonho, e Nabucodonosor, calado, quer dizer: “É isto mesmo. É este o sonho.” Daniel 2:37-38 “Tu, ó rei, rei de reis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória; a cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os animais do campo, e as aves do céu, para que dominassem sobre todos eles, tu és a cabeça de ouro.” A primeira parte importante da leitura deste texto, Daniel identifica a primeira parte desta estátua, “cabeça de ouro”, referindo-se a Nabucodonosor. Daniel 2:39 “Depois de ti, se levantará outro reino, inferior ao teu; e um terceiro reino de bronze, o qual terá domínio sobre toda a terra.” Daniel 2:40 “O quarto reino será forte como ferro; pois o ferra a tudo quebra e esmiúça; como o ferro quebra todas as coisas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará.” Daniel 2:41 “Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte, de barro de oleiro e, em parte, de ferro, será esse um reino dividido; contudo, haverá nele alguma coisa de firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo.” Daniel 2:42 “Como os dedos dos pés eram, em parte, de ferro e, em parte, de barro, assim, por uma parte, o reino será forte e, por outra, será frágil.” Daniel 2:43 “Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.” Daniel 2:44 “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre.” Daniel 2:45 “Como viste que da montanha foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.” Nabucodonosor vai ficar extremamente impactado, ele vai honrar Daniel. Na verdade, vai até se curvar diante de Daniel, e oferecer ofertas e sacrifícios a Daniel, como se Daniel fosse um ser divino. Vai promover Daniel e daí termina a história deste capítulo. No texto de Daniel os termos “rei” e “reinos” são sinônimos. Isto vai aparecer nos próximos textos também. Identificamos o reino da Babilônia. Os demais reinos não são identificados, mas são apontados algumas de suas características: o segundo reino seria “inferior” ao primeiro. Temos, no texto, esta idéia de valor: ouro/prata - superior/inferior. O terceiro reino terá “domínio” sobre toda a terra. Mudança da idéia de metais de valor (ouro/prata) para a de metais de poder (bronze/ferro). O texto não trabalha com a idéia de degradação: prata inferior ao ouro, bronze inferior a prata, ferro inferior ao bronze. Apenas ouro e prata trabalham a questão disto: superior/inferior. A partir do terceiro, o bronze, trabalha a idéia de poder, domínio, força. Metais símbolos de poderio de guerra da antiguidade. O bronze e o ferro, nos dias de Daniel, eram metais de valor militar. O texto nos leva nessa direção. Aparece no texto, agora, que o ferro, “extremamente forte” vai também aparecer nas outras profecias paralelo, de forma clara, nos ajudando a compreender que reino seria este. Depois disto temos o quinto reino, que é os pés, uma continuação do quarto reino. Mas há uma mudança com o aparecimento de um não metal: o barro de oleiro ou barro de lodo. O barro de oleiro toma preeminência neste reino, pois é citado primeiro: “pés de barro e ferro.” Esta interpretação desta parte da estátua é a mais longa do capítulo, que toma mais tempo para explicar. São três versos para dar vários detalhes deste reino. Então, ele se torna o foco principal. Ao longo do livro de Daniel, vamos ter referência ao quarto reino, e o que vem depois dele, é sempre a ênfase principal, tomando muito mais espaço para explicar este quinto reino. Quais são as características do quinto reino? 1 ) É um reino que estão juntos, mas dividido. Não é um reino unido. Tem ferro, mostra que está ligado com o reino anterior. 2 ) É um reino em parte forte e em parte fraco. 3 ) É um reino que busca a unidade (por meio de casamentos); mas não consegue se unir.
Este quinto reino antecede a vida do reino de Deus. O reino de Deus virá no momento deste quinto reino. Existe uma unidade entre todos os reinos da estátua, pois no final a estátua toda é destruída, e não somente os pés, e desaparece da cena da história. Ainda que haja uma progressão de um reino após o outro, todos esses reinos são uma unidade só. Temos então a estátua, mas o futuro dela está nos pés; mas a cara da estátua, tem a cara de Babel. Então temos toda uma dimensão do texto bíblico, onde tem a figura de Babel como um poder humano, que está ali, e de certa maneira em oposição, que se levanta contra Deus desde Gênesis 11, a torre de Babel. Depois tem o chamado de Abraão para constituir o povo de Deus, remanescente da humanidade. Babel é muito ligado com a história da humanidade e isto vemos na estátua, vai até o fim da História. No próximo estudo vamos estudar o capítulo 7 mas ao mesmo tempo o capítulo 8 em paralelo, para nos ajudar a identificar o segundo e terceiro reino. E na sequência do estudo, o que ajuda a entender do quarto e do quinto reino. O capítulo 8 e 9, vai abranger o quinto reino, que vai tomar três estudos. Os capítulos 10 ao 12 são a parte mais desafiante de Daniel, e o 11 é o grande desafio de compreensão do livro.
Links:
https://www.adventist.org/pt-br/em-que-os-adventistas-do-setimo-dia-acreditam/
ttps://centrowhite.org.br/downloads/audiobooks/o-desejado-de-todas-as-nacoes/
https://consultoriadoutrinaria.blogspot.com/
http://consultadapalavra.blogspot.com/
https://youtu.be/l8VyLqdq1U8?si=97RSkL5aIA12swSb
https://youtu.be/d8zvyOi-2jI? si=bXql_Z_z1Hai_tlD
https://www.youtube.com/watch?v=AoLfdfB36ww